21 de março de 2015

Vida de Tarólogo (I)


Hoje me fizeram uma pergunta de resposta óbvia, mas capciosa. Se eu, na minha profissão como analista de símbolos, sempre tomo atitudes ajustadas. Afinal, diz aquele que me inquiriu, sou uma taróloga de muita prática, de conhecimentos teóricos explicitados e acesso facilitado a uma ferramenta poderosa de auto-conhecimento, quiçá, de adivinhação. Antes de desconsiderar a pergunta resolvi escrever. Alguma coisa há de ser aproveitada no processo de reflexão.

As coisas não funcionam assim. Seria o mesmo que imaginar que alguém que trabalha com a Alma sempre estivesse em estado de Temperança, que todos os poetas fossem o retrato do equilíbrio, os psicólogos donos de suas neuroses e todos os filósofos, reis das escolhas acertadas.

O que eu tenho a dizer sobre os ganhos da minha vida pessoal frente a experiência profissional é que conviver intensamente com minhas questões, sem varrer o que não entendo logo de cara pra baixo do tapete, fez com que eu possa prever com relativa frequência o resultado de minhas atitudes. Quase sempre sei no que vai dar, mesmo que muitas vezes preferisse não saber para me sentir mais livre para experimentar e errar. Talvez minha visão se deva aos anos de vida somado ao tempo que dediquei à arqueologia do inconsciente reconhecendo minhas pulsões, incoerências e recorrências. E claro que, além da Análise, o Tarot também me ajudou bastante. Se meu instrumento de trabalho não houvesse me servido como meio de auto-reflexão, também não serviria àqueles que atendo.

Mas não tenho os números mega-sena íntima e duvido que alguma colega meu tenha. Tomo atitudes impensadas, faço besteiras, enfio o pé na jaca e me equivoco. Ninguém, e agora vou chover no molhado, mesmo aqueles que lidam diretamente com a Alma do Mundo, estão livres do erro ao lidar consigo, o que deve ser festejado, SEMPRE.

Penso que se você adia seus movimentos espontâneos, seus desejos, as opiniões do seu coração para manter o controle (controle esse que é ilusório, diga-se de passagem), a vida fica muito sem graça, previsível. Eu só tiro caras de Tarot para mim quando estou frente a uma encruzilhada e preciso tomar uma decisão importante, rápida e acertada, mas faço isso cada dia menos.

Decididamente, hoje, prefiro ter espetos de pau na casa de Vulcano.

Zoe de Camaris
p.s.: A imagem é Jake Baddeley, Sun & Moon.