
A Casa de Deus, A Torre Abatida pelo Raio, ou simplesmente A Torre. Terrível arcano XVI. Terrível sim, porque poucos querem se desiludir. Poucos querem deixar de acreditar que as velhas formas de lidar com a vida já deram o que tinham que dar. Dizem que o Diabo revela uma prisão do instinto. Pois a Torre revela uma prisão do intelecto. Normas internas, construções mentais, uma arcabouço de procedimentos cravados na memória, o moto-contínuo dos gestos viciados. E aí, zaz-traz! lá vem o raio. Joga você no chão e você levanta, juntando os destroços e colocando a culpa no relógio, no outro, na fome, na falta. Ou então o raio ilumina. E como um xamã, você retorna "outro" para a vida. Ou seja, você mesmo. Como era antes. Mas aí já é A Estrela.
Silvia Plath, poeta americana, parece ter usado leit-motivs do Tarot em diversos poemas. É uma especulação. Mas basta ler seus poemas. Silvia lia o Tarot ou o Tarot estava em Silvia Plath?
Zoe
CANÇÃO DE AMOR DA JOVEM LOUCA
Silvia Plath, poeta americana, parece ter usado leit-motivs do Tarot em diversos poemas. É uma especulação. Mas basta ler seus poemas. Silvia lia o Tarot ou o Tarot estava em Silvia Plath?
Zoe
CANÇÃO DE AMOR DA JOVEM LOUCA

Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro
Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer
(Acho que te criei no interior da minha mente)
Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis,
Entra a galope a arbitrária escuridão:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.
Enfeitiçaste-me, em sonhos, para a cama,
Cantaste-me para a loucura; beijaste-me para a insanidade.
(Acho que te criei no interior de minha mente)
Tomba Deus das alturas; abranda-se o fogo do inferno:
Retiram-se os serafins e os homens de Satã:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.
Imaginei que voltarias como prometeste
Envelheço, porém, e esqueço-me do teu nome.
(Acho que te criei no interior de minha mente)
Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão
Pelo menos, com a primavera, retornam com estrondo
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro:
(Acho que te criei no interior de minha mente.)
Silvia Plath
tradução de Maria Luíza Nogueira
in A REDOMA DE VIDRO