27 de abril de 2024

Como escolher um bom profissional de Tarot?

Algumas considerações sobre a prática do Tarot no Brasil, suas linhas de abordagem e sobre a escolha de um tarólogo que responda à sua demanda.

Reconheço três fases do desenvolvimento do Tarot no Brasil, a partir do momento que comecei a estudá-lo, em 1983.


1) Antes de 1980, o Tarot é visto exclusivamente como uma arte oracular. Seus praticantes, não raro, demonstravam vínculos com a Umbanda ou as cartas são deitadas por cartomantes sem ligação com religiosidades. Também são utilizadas para a prática divinatória as cartas do baralho comum ou o baralho de Mdm. Lenormand. Os estudos esotéricos estão relegados às escolas iniciáticas ou à ação autodidata;


2) O Tarot passa a ser mais conhecido pelo público após o boom esotérico dos anos 80. Antes dessa data, a maior parte dos estudos publicados no nosso país restringia-se a poucos livros e a bibliografia em língua estrangeira;


3) No fim dos anos 80, início dos anos 90, o Tarot começa a ser reconhecido como um instrumento auto-reflexivo, inciativa perpetrada, principalmente, pelos sanyasin, discípulos do Osho, que traduziam livros americanos e ingleses para suas oficinas. Essa iniciativa causa uma mudança necessária e bastante significativa para os estudos sobre o Tarot no Brasil. A bibliografia começa a aparecer, e acontecem alguns cursos isolados. 


4) Nos anos 2000, as listas do YahooGroups promovem boas discussões que continuam na época do Orkut e depois, no Facebook. As redes sociais facilitam encontros entre os praticantes e os mecanismos de tradução permitem que aqueles que não praticam línguas estrangeiras tenham acesso ao material publicado na Internet.


Para um tarólogo que faz dessa arte sua profissão, é sugerido que conheça as três vertentes do Tarot: a prática ocultista, a divinatória e a de auto-conhecimento.


A prática ocultista do Tarot é vinculada às escolas esotéricas, como a Golden Dawn, a Gnose, à Maçonaria. Seus autores mais conhecidos são Stanislas de Guaita, Eliphas Levi, Papus, Edward Waite e Aleister Crowley. São aventadas aí as relações do Tarot com a Astrologia, com a Geomancia, com a Cabala, o conhecimento profundo da carga dos números. Temos também a Alquimia, a riquíssima arte da transformação, com suas imagens estimulantes e etapas do processo alquímico. 


Na minha experiência me servi bem das estruturas propostas pelas ciências da magia. E aprecio bastante da linguagem cifrada, porque ela ativa meu entendimento e a minha imaginação. 



No Tarot de autoconhecimento são diversos os autores e comentadores que se apóiam nas contribuições da psicologia em geral, como a de viés analítico, a de Carl Gustave Jung. Procedimentos da PNL, Programação Neurolingüística, e técnicas de escuta ativa são algumas dentre inúmeras outras possibilidades de cruzamento.


Normalmente, quem gosta de Tarot também lê sobre Psicologia, e comigo não foi diferente. Alternava a leitura de tudo que me caia às mãos com os livros sobre Contos de Fadas e Mitologia, de autores como Marie-Louise von Franz, James Hillmann, Esther Harding. 



A prática divinatória é, ainda hoje, a que mais atrai consulentes desejosos em especular seu futuro. Há muito charlatanismo nessa facção – “trazemos seu amor de volta em um dia”, “com 3 mil reais à vista vamos resolver seu problema de impotência através das cartas”, entre outras coisas engraçadas mas se mantivermos os olhos abertos é possível perceber que a prática irresponsável e o abuso de poder também cercam o mundo “ocultista”, onde talvez, o perigo ainda seja maior. 


Outros aderem a uma espécie de pseudo prática de autoconhecimento e aconselhamento, nem sempre levada a cabo de forma efetiva. As leituras de Tarot costumas ser sazonais e a prática da Psicologia requer acompanhamento e suporte ao paciente, coisa para qual o tarólogo, grande parte das vezes, não está habilitado.


Bem, o que nos confere algumas certezas? Praticamente, quase nada. A escolha de um bom tarólogo ainda funciona bem pelo método antigo – a recomendação. No entanto, o que é bom para um pode não ser bom para o outro, o que pode acontecer com o atendimento médico ou com o encanador que fez maravilhas na casa de sua amiga e acaba estourando toda sua cozinha. Conclusão que nos leva novamente ao ponto de partida. 


Nas redes sociais é possível perceber, para um olhar mais atento, quem são os profissionais de leitura simbólica que levam sua profissão a sério. Observe se as postagens demonstram repertório em outras áreas de conhecimento e se existem registro de alguma leitura aberta ao público, onde você possa verificar se a forma dele/dela trabalhar faz sentido para você. O marketing selvagem, aquele que promete mundos e fundos, na minha forma de perceber, desmerece o profissional. Mas vai saber, né? Pode ser preconceito da minha parte. 


O que nos confere algumas certezas num terreno tão subjetivo como a prática tarológica?


Aventam alguns, a institucionalização da profissão de tarólogo. Outro problema. O Tarot está intrinsecamente ligado ao pensamento mágico, à poesia, ao oráculo. Como institucionalizar o trabalho de um analista de símbolos? Não é possível estabelecer um código de ética com uma prática que lida com o sorteio. Teria uma ética, o “acaso”? E se existisse, seria uma ética humana ou sobre-humana? 


O Tarot é uma arte da imaginação. E sem a carteirinha de tarólogo, homologada sabe-se lá por quem, seria caçada a cartomante que atende nos fundos de casa para completar a renda da família? Deixa a pessoa trabalhar em paz. 


O que validaria alguém que trabalha com o Tarot? Como escolher um tarólogo com alguma margem de acerto? Então vamos lá: 


Primeiro, que faça uso das cartas tradicionais, os 78 arcanos menores e maiores. Em segundo lugar, que conheça a iconografia pertinente e sua relação com outros sistemas de pensamento. Que seja uma pessoa culta, sim, já que a leitura do Tarot pressupõe algum trânsito pelo espírito do seu tempo. Que possua a prática necessária para poder cobrar pelo trabalho, assim como qualquer outro profissional.


Nós, os tarólogos, sabemos da importância crucial do poder imaginativo e da intuição. Que sem esse aparato do espírito, de nada adianta o conhecimento racional. E isso não pode ser medido – ainda não inventaram o intuitômetro. Olhar para as imagens com a perplexidade como que Arcano Zero olha para o mundo é fundamental para criar narrativas que contem, através de uma combinação inusitada, a história de alguém que você não conhece. E muitas vezes, uma senhora pertencente a uma família de baixa renda e por ventura mal alfabetizada, pode nos dar dez a zero, pelo menos nesse quesito.

Então, o vale mesmo, é o que você deseja. Quer uma leitura divinatória, que aponte sem maiores responsabilidades os caminhos futuros mesmo que isso corresponda a escutar coisas desagradáveis? Procure alguém com este perfil. É o Império do Destino.


Deseja descobrir a razão de pesadelos e possíveis ataques astrais? Procure um tarólogo ocultista. É o Império da Magia.


Quer um trabalho mais moderno, que fale do seu presente e lhe mostre as tendências futuras, sempre lembrando das escolhas que estão em suas mãos? Procure um tarólogo ligado às terapias holísticas.  É o Império do livre-arbítrio.


Separei tudo em blocos para que o leitor possa ter uma breve idéia das linhas adotadas pelos tarólogos. Mas volto a afirmar: um bom tarólogo transita nas três, sem que você perceba. 



Boa sorte nas suas escolhas!



Zoe de Camaris

p.s.: Estou na plataforma de consultas do Personare. Se quiser consultar comigo, é só clicar aqui.

24 de abril de 2024

Queens and Sex and City




Aproveitando que a série voltou ao nosso imaginário em 2024 e já é uma das mais vistas na Netflix, recupero esse artigo de 2008. 

Curti Sex and City bem depois que tinha passado na TV. Um amigo me emprestou as 6 temporadas e, como eu estava de bobeira e a fim de perder tempo, resolvi saber do que se tratava. E gostei. Os diálogos são bem amarrados, as atrizes são divertidas, os temas bastante comuns a todas mulheres, solteiras ou não. O lado ruim é que quando você vai se vestir sempre acha o seu guarda-roupa um lixo, provavelmente porque é mesmo. O dia que a colunista de um jornal possa comprar todos aqueles sapatos caríssimos, teremos mais "Carries" no mundo. Obviamente, nenhuma das 4 amigas representa a de exatidão um arquétipo, o que é inumano. Todas elas guardam características de outras Rainhas. Mas em linhas gerais, se encaixam bem nas meninas da corte. Fica como curiosidade.

R A I N H A_ D E _P A U S


S a m a n t h a _ J o n e s


Água do Fogo. A Rainha de Paus é a mais quente e alegre de todas as Rainhas. A receptividade da Água, feminina, e a ação do Fogo, masculino. A ígnea dama conhece bem o seu poder pessoal e emana confiança. Carisma é o seu nome. Paixão, o que corre em suas veias feito lava de vulcão. E Samantha Jones é uma explosão, uma bombshell, sexo em estado puro. Femme Fatale de apetite voraz. Sua profissão? Relações Públicas! Dona de sua empresa e de um belo nariz arrebitado, exemplifica bem a independência da Rainha de Paus. E sabe ganhar dinheiro, coisa do naipe de Ouros. Samantha não se envolve afetivamente com seus parceiros. Para não se machucar usa todas estratégias possíveis de desvio. Eis sua linha de pensamento: -"O homem certo é uma ilusão, portanto vamos começar a viver nossa vida". E Samantha tem orgulho de ser como é. Quando interpelada por um desconhecido com a cantada de praxe "nos não nos conhecemos de algum lugar?", responde: -"É bem possível que já tenhamos transado." E a resposta não é a toa, já que sua marca nas 6 temporadas de Sex and City é de 42 transas - incluindo Maria, a artista plástica vivida no seriado por Sonia Braga. Suas cores são básicas - vermelho, amarelo, azul. A Rainha ferida de Samantha é a Rainha de Copas. E é com ela que terá que se deparar no final da série. Aceitar amar e ser amada.

R A I N H A_ D E_ C O P A S


C h a r l o t t e _Y o r k

Água da Água. A pureza feminina. Até o nome, Charlotte, parece de doce. A mais romântica, sonhadora e delicada das quatro amigas, é Rainha de Copas na cabeça. Sua palavra de ordem é tradição. O maior desejo é ter filhos, casar com um homem sério e destacar sua posição social. É uma marchand, trabalha com obras arte, mas isso nunca está em evidência e deixa de ser importante frente ao casamento. Com tendências compulsivo-obsessivas, guarda uma característica de Espadas. Charlotte gosta de tudo nos seus devidos lugares. Suas cores são leves, os vestidos clássicos e delicados. Sexo animal não é bem sua praia, é a mais "pudica" das quatro. No episódio quatro da segunda temporada, diz: - " Se gostamos do cara, que mal há em fingir um 'oh, oh'? É melhor que ficar sozinha." Apesar de ser a mais abastada financeiramente, creio que por herança de família, sua Rainha ferida é Ouros. Tem dificuldades para engravidar. No final das seis temporadas, Charlotte adota um bebê, dando vazão ao seu instinto maternal.

R A I N H A_ D E_ E S P A D A S

M i r a n d a_H o b b e s

Água do Ar. A Rainha de Espadas é mais inteligente, rápida e sarcástica de todas as Rainhas. E Miranda é tudo isso - advogada, graduada em Harvard, sócia da firma em que trabalha, batalha por suas idéias e é dona do apartamento em que mora. A melhor amiga de Carrie é a mais "jogo duro" das quatro. Sua posição em relações aos homens é bastante objetiva: -"Quem não é casado é gay ou divorciado. Ou vem do planeta 'não namore comigo". Quando não tem nenhum parceiro sexual, Miranda desconta comendo chocolates compulsivamente. Sua Rainha ferida é a de Paus - não é segura do seu poder de atração, do seu corpo, não acredita no seu sex-appeal: -"Sexy é um adjetivo que eu tento fazer com que eles vejam em mim depois que eu ganho a atenção deles com minha personalidade". No final da série Miranda tem um filho, se casa e deixa Manhattan pelo Brooklyn, bairro que detesta. Sua frieza é temperada pelo casamento.

R A I N H A_D E_ O U R O S

C a r r i e__B r a d s h a w

Água da Terra. A Rainha de Ouros traz em si todas as outras Rainhas. E na protagonista e narradora de Sex and City se encontram todas. Espadas, pela sua profissão - o Ar é o elemento da comunicação, do questionamento. É Paus porque exercita sua sexualidade sem maiores problemas e trabalha razoavelmente bem com sua imagem em evidência. É Copas, porque o amor lhe é caro e norteia sua vida e seu trabalho. Mas não é cínica como pode ser uma Rainha de Espadas, não é uma devoradora de homens como pode ser uma Rainha de Paus e nem é melosa e casadoira como uma Rainha de Copas. Portanto, Rainha de Ouros. Uma Rainha de Ouros com apartamento alugado mas que troca um jantar por uma Revista Vogue. Carrie equilibra as 4 Rainhas e sabe das coisas: - "Você pode tirar o garoto do Studio 54, mas não tira o Studio 54 do garoto". Carrie só perde a noção das coisas frente a um par de sapatos Manolo Blahnik.
***************************
Agora, por força das circunstâncias, lá vou eu ver Sex and City, o filme. Será que Carrie fica mesmo sem o seu Big Man? Torcendo para que role qualquer outra história, porque acho ele um babaca. 

abraços,
Zoe