Queen of Cups/ Jake Baddeley
A Majestade dos Tronos da Água. A Rainha entre as figuras da corte preside a matéria aquosa. Por ser de Copas, Cálices, Taças, é duplamente água. Elemento no elemento. Líquido e recipiente. Água da Água. Não há nada de masculino nessa figura - estrogênio puro, arquétipo visceral do feminino. Nenhuma mulher de carne e osso pode ser completamente de Copas, a não ser quando, eventualmente, atinge o estado medial. Falamos de um arquétipo e do encontro dessa força primeva com mulheres de carne e osso.
Sim,
a Rainha de Ouros também é duplamente feminina, Terra e Água, mas aí é outra
história. O elemento Terra lhe torna "corpórea", tangível. A Mãe de Ouros relaciona-se com A Imperatriz, Terra.
A Rainha Copas, heroína e mote deste
artigo, é uma emanação da Alta Sacerdotisa, arcano II.
Pura
água, reflexo e transparência.
A Dama das Águas é fluidez e dissolução, líquido amniótico, origem do mundo. Paralela ao horizonte espraia-se na superfície. Assim como o planeta, formado de 80% de água. Como o corpo humano. Mas a Rainha de Copas é 100% água. Especificamente nesse caso, 20% fazem toda a diferença.
A
Majestade das Águas mata a Terra por dissolução, o Fogo por extinção e o Ar por
dilúvio. O poder da água é inquestionável e avassalador. Assim também sabemos como ela pode morrer.
A
Água rege o sono profundo, as memórias, o inconsciente. É o repouso.
Horizontalizamo-nos quando dormimos. Voltamos ao estado aquático, às praias nativas, areia nos olhos. Unimo-nos a
nós mesmos. Quando as nossas águas internas se acalmam namoramos com o Sonho. É
onde e quando o Tempo, deus radical e de pouca conversa, subvertido pelo mergulho noturno de uma gota humana nos deixa em relativa, momentânea paz.
Característica
da Água: o amálgama, o mimetismo. Então, a nossa Rainha nunca pode mostrar-se
exatamente como é. É o caso de Melusina, a mulher serpente. Ou de Mélisande,
alter ego do Cavaleiro Verde no ciclo arturiano. Pura Anima. Emanação. Signo do engolimento, da expulsão, da corredeira simbólica.
The Silent Wail of Melisande -Chipo Laba |
Águas da foz, nascentes e doces (signo de Caranguejo), Águas paradas e pantanosas (signo de
Escorpião), Águas do mar (signo de Peixes). Três estágios do comportamento,
cardinal, fixo e mutável. E assim se mexe a Majestade, dependendo dos humores.
E tendo regência lunar...
A Lua muda. Existe água na Lua. A Rainha muda. A Menina (lua nova), A Sereia (lua crescente), A Mãe (lua cheia), A Bruxa (lua minguante). Em sua doçura mora o sal e todos os perigos do mar. A força das marés. O oceano profundo.
A Lua muda. Existe água na Lua. A Rainha muda. A Menina (lua nova), A Sereia (lua crescente), A Mãe (lua cheia), A Bruxa (lua minguante). Em sua doçura mora o sal e todos os perigos do mar. A força das marés. O oceano profundo.
Menina, porque é Boba. Bobíssima. Na Rainha de Copas vive uma eterna princesinha. Ela dança. Menina, porque é pura. Tem um trato inicial com a inocência. É a mulher-menina, a mulher-Estrela, cantada em verso e prosa por André Breton e Benjamim Péret, a musa eterna do Amor Sublime. Psiquê.
Espera um príncipe encantado. E ativa o romântico-apaixonado em cada homem. É com ela que ele quer se casar, a princesa de seus sonhos secretos. Mulher Anima. De novo, o espelho. Ela não existe. Ela é Ele. Ele é Ela: "Conta a lenda que dormia/ Uma princesa encantada/ A quem só despertaria/ Um infante, que viria/ De além do muro da estrada (...) Assim nos conta Fernando Pessoa, ele mesmo, no seu poema Eros e Psiquê. Até que o príncipe vê que ele mesmo era a princesa que dormia.
Beatriz de Dante, Charlotte de Werther. Laura de Petrarca.
Espera um príncipe encantado. E ativa o romântico-apaixonado em cada homem. É com ela que ele quer se casar, a princesa de seus sonhos secretos. Mulher Anima. De novo, o espelho. Ela não existe. Ela é Ele. Ele é Ela: "Conta a lenda que dormia/ Uma princesa encantada/ A quem só despertaria/ Um infante, que viria/ De além do muro da estrada (...) Assim nos conta Fernando Pessoa, ele mesmo, no seu poema Eros e Psiquê. Até que o príncipe vê que ele mesmo era a princesa que dormia.
Beatriz de Dante, Charlotte de Werther. Laura de Petrarca.
Mas também é a Sereia que encanta, a sedução encarnada no seu canto transparente. Pura Música. Remanso de sereias, os mais belos monstros marinhos. Então, também é A Morte, a escuridão e o silêncio profundo. Os ossos nos navios, tesouro de piratas marcados com uma caveira. Ao contrário da princesa, que completa, a sereia sempre deixa um espaço em branco, um espaço a ser preenchido, uma indefinição. Troca os sinais, confunde, desloca os sentidos. Fisga. Ela é quem transforma o outro em peixe. Incompleta traz a incompletude.
Robert Fludd, Utriusque Cosmi Maioris Scilicet et Minoris Metaphysica, 1617. |
É a Raiz dos Poderes da Água, princípio universal do Amor. É o balanço das águas que nina desde o ventre. São os braços que acolhem e a maciez do colo. A mais pura tradução da Ternura.
E é Bruxa porque mexe com o destino. Conhece os segredos do passado e do futuro através dos véus, raios de sol com poeira purpurínea. Não, sua arma não é fogo que bruxuleia nem o
vento que arrebenta nem a faca que corta nem a terra que acolhe. É a água que
reflete. Espelho d'água.
Em toda mulher de Copas há um espelho. Há alguém mais bela do que eu? A magia que devolve ao emissor os seus próprios desejos. Mas não! Não a confunda com a Madrasta Malvada. Estou falando do ponto de vista do espelho. A postura dela nunca é longilínea, verticalizada e intencionalmente marcada como a personagem de Espadas.
Copas é o reflexo. Por isso espadas e em geral, os signos do ar, a detestam. Mulheres regidas pela aridez do pensamento incomodam-se sobremaneira com a beleza desavisada de Copas.
Illusion of madness by damnedEvans |
Mas a nossa Rainha é capaz de iludir o sentido da visão. Pode ser uma velha de verruga no nariz, pode ser
Lorelei na areia, de pequenos ou grandes seios. Não se engane. Embora seja
impossível que ela não o engane porque o engano é da sua natureza. Não o engano
articulado do ar, nem o engano vaidoso do fogo, nem o engano
previsível do ouro. Mas ao poder que o feminino estende ontologicamente, visceralmente, a todas
as mulheres.
É dissoluta porque dispersa e dissipa tudo que encontra. Não pára em si. Embora (convenhamos) aceite contornos por onde quer se esgueire. No entanto, ninguém molda a água. Apenas a contém por um tempo. Enquanto há tijolos, diques, garrafas, ela é fiel. Mas se esses lhe apertam, ela os explode. Também não a gelem porque com sua força iceberguiana não se brinca. É quando ela escorre em avalanche e derruba o mundo com sua grande bola de gelo e neve. E se afrouxam e dela se esquecem a Rainha das Águas escapole por meandros, buracos invisíveis e desaparece levando sua graça para outra realidade, água solúvel em água. Ela está sempre em si. Por isso, quase não existe. Paradoxalmente, toma o todo terreno, absoluta. Reina sobre as modificações, plena de modificações. Adquire cores, mas permanece em essência a mesma.
É dissoluta porque dispersa e dissipa tudo que encontra. Não pára em si. Embora (convenhamos) aceite contornos por onde quer se esgueire. No entanto, ninguém molda a água. Apenas a contém por um tempo. Enquanto há tijolos, diques, garrafas, ela é fiel. Mas se esses lhe apertam, ela os explode. Também não a gelem porque com sua força iceberguiana não se brinca. É quando ela escorre em avalanche e derruba o mundo com sua grande bola de gelo e neve. E se afrouxam e dela se esquecem a Rainha das Águas escapole por meandros, buracos invisíveis e desaparece levando sua graça para outra realidade, água solúvel em água. Ela está sempre em si. Por isso, quase não existe. Paradoxalmente, toma o todo terreno, absoluta. Reina sobre as modificações, plena de modificações. Adquire cores, mas permanece em essência a mesma.
A
mulher que tem na sua base a vibração essencial da Rainha de Copas precisa,
para que possa se mostrar ao mundo, do vestido de Outra: algumas vibram em
Espadas, usando a inteligência cortante do ar; outras em Paus com a beleza e o
brilho do fogo; outras em Ouros, protegendo e alimentando com os frutos da
terra. A Majestade do Trono das Águas é a única que não pode mostrar-se em uma situação
mundana exatamente como ela é. Enfim...
Emoções
e sentimentos, eis sua praia. Ela sente e sente muito. Enquanto sente é vítima
de si mesma. Quando deixa de sentir já era, sinto muito. Você também vai chorar enquanto ela sofre, lamenta-se, vira berro d'água, água da água da água e toma afluentes. Afoga-se na tristeza. Para defender sua integridade sabe (ou pode saber) como alternar o leito
por onde corre. E nunca passa pelo mesmo lugar. Talvez depois de muitos anos,
depois de séculos, depois de Eras. Ela nunca deixará de ser o que era.
Nota-se também pela ausência. O supra-sumo da chantagem emocional. Líquida, liquida com tudo. É como se o mar de repente sumisse, desaparecesse.
Trágica, grandiosidade de Diva tem a nossa garota delicada. É Ophelia morta entre as flores e óperas. Lágrimas. Vítima de
sua extrema delicadeza. Vitima de sua sinceridade desavisada. Lágrimas. Vítima
da integridade ofertada aos transtornos masculinos. Lágrimas. Ela não compreende,
só sente. Ama em estado puro, mas não no mundo ordinário porque, o Amor, aqui na Terra, requer inteligência adequada. E lhe falta o jogo de cintura mercuriano, o fogo que lhe transforme a tepidez em lava, a antropologia visceral das necessidades básicas, o instinto animal norteador. Guria inadequada.
Medieval Scapini |
Sendo a dona da poesia, Dea Musa, digamos que a mulher de Copas precise urgentemente e sempre de máscaras para se proteger. Máscaras que desgrudadas do seu rosto sejam-lhe professoras e tornem-se maneiras de entendimento futuro. Que nunca lhe nublem a essência e sim lhe mostrem as articulações precisas para que ela burle a sua extremada sensibilidade. Para que possa se relacionar sem tanto e angustiado sofrimento. Para que não seque, para que não se envenene.
A dor e a depressão são tendências inatas dessa Rainha. Seu reino é a água tépida que para interagir precisa de terra, de fogo, de ar. Ela é Yin, totalmente yin. Para lidar com a dor precisa de apoio até que compreenda o que está ao alcance de suas mãos líquidas. E para que se proteja de si mesma. Não existe lugar neste mundo para uma mulher Água-Água. Ela é puro Cinema, Literatura, Mito.
AutumnsGoddess |
Sua representação na Arte mostra de duas, uma: ou é a ninfa que emerge ou a mulher que mergulha para sempre. No primeiro caso está a lenda da Selkie, mulher-foca que, mostrando-se quase sem querer em sua face humana faz um coração masculino apaixonado. Ele rouba-lhe a pele e a toma como mulher. Ela lhe dá filhos, mas seu olhar não disfarça a saudade do mar. Um dia retoma sua pele de foca e volta para suas águas matriciais. Não pode ser feliz fora do seu elemento.
A história que conto está no filme The Secret of Roan Inish e também é abordada
com maestria por Clarissa Pinkola Estés em Mulheres que correm com os lobos. Ainda no cinema, a visão mitopoética de M.
Night Shyamalan, (em Lady in water) nos lega Story, uma ninfa da água que aparece numa piscina de um condomínio.
Perseguida por inimigos que não querem que ela volte para seu mundo recebe
ajuda humana. Aí está a inadequação da Rainha de Copas. Ela não é do nosso
mundo. A não ser quando percebemos que no nosso mundo também moram a fantasia, a imaginação e a poesia.
Quando
há uma identificação extremada com a Rainha de Copas o risco de uma mulher perder-se
no espelho das águas é alto. Voltamos à Ophelia shakespeariana boiando
morta entre ninféias. Movimento
narcísico. Ela quer ser só ela mesma e nada mais. É a escritora
Virginia Wolff caminhando com uma pedra para o mundo das profundezas no seu suicídio.
É a personagem Ada do filme O Piano. Muda, sua voz é música. O cenário da sua história é cinza, nuvens carregadas, céu nublado chuva e sangue. Há água por todos os lados. Na magistral interpretação de Holly Hunter, a voz da sereia retorna para o mundo das águas. É também Dora Maar, de Picasso, que não chorava à toa.
É a personagem Ada do filme O Piano. Muda, sua voz é música. O cenário da sua história é cinza, nuvens carregadas, céu nublado chuva e sangue. Há água por todos os lados. Na magistral interpretação de Holly Hunter, a voz da sereia retorna para o mundo das águas. É também Dora Maar, de Picasso, que não chorava à toa.
Pablo Picasso, La femme qui pleure (Dora Maar), 1937 |
Mal
aspectada é La Loroña, a mãe que afoga seus filhos. Banshee, aquela que grita e
provoca a morte - Lilith, Cihuacoatl, Lamia e as sereias eslavas, as Rusalkas. A Rainha de Copas é também Viviane, a Senhora do Lago, a guardiã de Excalibur. Recebe, conhece e oferta. E quando não se distrai com as mazelas humanas retorna para o poço, lá onde o fundo é tão fundo que não tem fim.
Poderíamos
arriscar uma classificação. Inadequada, certamente. Quando se fala da Rainha
das Águas nenhuma classificação é possível. Escondendo-me de sua fúria (ou mágoa), esquecendo-me
da minha carta natal com caranguejo ascendendo em caranguejo, apelo para as artes geminianas: A Rainha de Copas de Crowley (Thot Tarot) tem sua posição
astrológica entre o 21° de Gêmeos ao 20° de Câncer. Possivelmente serei perdoada.
Thot Tarot |
A
Rainha de Copas é:
MEDIUM
se combinada com Copas
SEREIA
se combinada com Paus
MÃE
se combinada com Ouros
VIRGEM
se combinada com Espadas
Seu poder de entendimento dos segredos s do mundo plasma-se quando está em essência no mesmo elemento, quando
é A Sacerdotisa no Tarot. O poder de sedução inflama-se na Sereia quando de
encontro com o fogo, A Força no Tarot. O amor incondicional e o poder de gerar,
parir e nutrir no elemento terra, A Imperatriz no Tarot. E a pureza recheada
com poder do destino quando de encontro com o céu, com o ar, A Estrela no
Tarot.
A
Rainha de Copas, o feminino frágil, belo, romântico, carente e ao mesmo tempo
nutritivo, chafariz de toda a vida, parece ter se escondido para sempre nos livros ou falésias encantadas de pequenas cidades do interior da Irlanda. Em cartas de Tarot. Não cabe aqui. Virou personagem, voltou de onde veio com as veias sempre azuladas
sobre fundo branco. Sua sensibilidade curiosa e inocente, suas vestes diáfanas,
seus olhos verdes azulados de mergulho e sua incompetência funcional escondem-se
cada vez mais nas ondas radicais de um tsunami. Acordem! Inumana e fonte de toda a vida, toma o mundo em ondas. Rainha que não necessita de um império. E que, no entanto, reina absoluta.
Em Cy,
Zoe de Camaris
Queen of Cups by ghostinthesnow |
Em Cy,
Zoe de Camaris
14 comentários:
Vim parar aqui hoje como se fosse necessário receber este bálsamo para a minha inadequação que sempre me fez sentir tão vulnerável face ao mundo.
Muito obrigada
Cristina
Fluxo e refluxo, perda, dano, recompensa e compensação.
Não existe mal nem bem na Rainha, ela flui. Egoisticamente esparramada no mundo, porque Tudo a contém. Quando lhe convém.
Lindo texto, Zoe, lindo mesmo.
que costura linda, Zoe, entre tarot e astrologia, que explosão bonita de ler e mergulhar! =)
Querida! que linda, que profunda e que extasiante leitura!
Minhas águas se reconheceram neste texto!
eu, que sol terra, com minha lua e nodo norte na 1 em cancer, Lilith em escorpião, Netuno em escorpião e Kiron e meio do ceu em Peixes, me encantei com seu canto de sereia e rainha!
obrigada!
Giselle
Olá Zoe!
Sou sua colega no Personare! : )
Que linda a simbologia profunda que o tarot traz, né? Linda demais.
Ah, e que cartinha mais delicada essa última representação desenhada da rainha de copas!
Água
Francis Ponge
Abaixo de mim, sempre abaixo de mim se encontra a água. É com os olhos baixos que sempre a vejo. Como o solo, como uma parte do solo, como uma modificação do solo.
Ela é branca e brilhante, informe e fresca, passiva e obstinada em seu único vício: o peso; dispondo de meios excepcionais para satisfazer esse vício: contornando, traspassando, erodindo, filtrando.
Dentro dela esse vício também brinca: ela desaba sem cessar, renuncia a toda forma a cada instante, tende somente a se humilhar, deita-se de bruços no chão, quase cadáver, como os monges de certas ordens. Sempre abaixo: tal parece ser seu lema: o contrário de excelsior.
*
Poderíamos quase dizer que é louca a água, por esta histérica necessidade, que a possui como ideia fixa, de obedecer somente ao seu próprio peso.
Certamente tudo no mundo conhece essa necessidade, que sempre e em todos os lugares deve ser satisfeita. Esse armário, por exemplo, mostra-se bastante teimoso em seu desejo de aderir ao solo, e se um dia encontrar-se em equilíbrio instável, preferirá atirar-se a resistir. Mas enfim, em certa medida, ele brinca com o peso, desafia-o: não desaba com todas as suas partes, seus moldes e molduras não se conformam. Há nele uma resistência em prol de sua personalidade e de sua forma.
Líquido é por definição o que prefere obedecer ao peso a manter a forma, o que rechaça toda postura para obedecer ao seu peso. E, por causa dessa ideia fixa, de seu mórbido escrúpulo, perde toda compostura. Desse vício, que o torna rápido, precipitado ou estagnado; amorfo ou feroz, amorfo e feroz, feroz perfurante, por exemplo; astuto, filtrante, circundante; tanto que podemos fazer dele o que quisermos, e conduzir a água por tubos para fazê-la depois jorrar verticalmente, a fim de fruir enfim seu modo de se precipitar como chuva: uma verdadeira escrava.
... Entretanto, o sol e a lua têm ciúme dessa influência exclusiva, e tentam exercer seu poder sobre ela quando se oferece em grandes extensões, sobretudo se ela estiver em estado de mínima resistência, dispersa em finas poças. O sol, então, lhe cobra alto tributo. Ele a força a um ciclismo perpétuo, e a trata como um esquilo em sua roda.
*
A água me escapa... me escorre entre os dedos. E, ainda mais! Não é sequer tão definida (como um lagarto ou um sapo): ainda me restam traços dela nas mãos, manchas relativamente lentas para secar ou que é preciso enxugar. Ela me escapa e, contudo, me marca, independentemente de minha vontade.
Ideologicamente dá no mesmo: ela me escapa, escapa a toda definição, mas deixa rastros, manchas informes em meu espírito e sobre o papel.
*
Inquietude da água: sensível à mínima alteração da declividade. Pulando as escadas com dois pés ao mesmo tempo. Brincalhona, de obediência pueril, voltando imediatamente quando, através da mudança da inclinação para este lado, ela é chamada.
Caro Anônimo, caso se chame Antônio ou mesmo Antônimo, belíssimo texto de Ponge! Encontro ecos de minha lembrança sobre as águas e sob ela. Por isso talvez tenha esquecido do seu peso.
Simplesmente lindo...sem palavras!descreve exatamente minha vida! E eu perguntaria..como aterrar essa natureza para q possa fluir em prosperidade maior?ligada com Gaia....pela terra!?
Sobre o último comentário: Você pode ter diversos traços em comum com a Água da Água, a Rainha de Copas. Mas precisaria descobrir com qual outra Rainha se combina para poder aterrar (por assim dizer). Espadas, Ouros ou Paus?
Olá Zoe,
Gostei muito de seus textos.
E fiquei curioso se essa linda figura da rainha de copas é de um baralho real? adorei o traço.
também tenho um blog, embora meus textos não abordem a simbologia do baralho (aureolopes.blogspot.com)
Agradecido,
Olá Zoe. Belíssimo texto!!!
Me encanta a simbologia dos arquétipos!!
Porém só gostaria de corrigir uma informação que vc deu no início do texto, de que a terra é 80% água. Isso não é verdade, pois a água está somente na superfície.
A SUPERFÍCIE da Terra, esta sim é 80% água :)
Que texto maravilhoso! Gratidão!
Eu sou essa carta. O mundo não compreende minha forma de amar.
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