Algumas considerações sobre a prática do Tarot no Brasil, suas linhas de abordagem e sobre a escolha de um tarólogo que responda à sua demanda.
Reconheço três fases do desenvolvimento do Tarot no Brasil, a partir do momento que comecei a estudá-lo, em 1983.
1) Antes de 1980, o Tarot é visto exclusivamente como uma arte oracular. Seus praticantes, não raro, demonstravam vínculos com a Umbanda ou as cartas são deitadas por cartomantes sem ligação com religiosidades. Também são utilizadas para a prática divinatória as cartas do baralho comum ou o baralho de Mdm. Lenormand. Os estudos esotéricos estão relegados às escolas iniciáticas ou à ação autodidata;
2) O Tarot passa a ser mais conhecido pelo público após o boom esotérico dos anos 80. Antes dessa data, a maior parte dos estudos publicados no nosso país restringia-se a poucos livros e a bibliografia em língua estrangeira;
3) No fim dos anos 80, início dos anos 90, o Tarot começa a ser reconhecido como um instrumento auto-reflexivo, inciativa perpetrada, principalmente, pelos sanyasin, discípulos do Osho, que traduziam livros americanos e ingleses para suas oficinas. Essa iniciativa causa uma mudança necessária e bastante significativa para os estudos sobre o Tarot no Brasil. A bibliografia começa a aparecer, e acontecem alguns cursos isolados.
4) Nos anos 2000, as listas do YahooGroups promovem boas discussões que continuam na época do Orkut e depois, no Facebook. As redes sociais facilitam encontros entre os praticantes e os mecanismos de tradução permitem que aqueles que não praticam línguas estrangeiras tenham acesso ao material publicado na Internet.
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Para um tarólogo que faz dessa arte sua profissão, é sugerido que conheça as três vertentes do Tarot: a prática ocultista, a divinatória e a de auto-conhecimento.
A prática ocultista do Tarot é vinculada às escolas esotéricas, como a Golden Dawn, a Gnose, à Maçonaria. Seus autores mais conhecidos são Stanislas de Guaita, Eliphas Levi, Papus, Edward Waite e Aleister Crowley. São aventadas aí as relações do Tarot com a Astrologia, com a Geomancia, com a Cabala, o conhecimento profundo da carga dos números. Temos também a Alquimia, a riquíssima arte da transformação, com suas imagens estimulantes e etapas do processo alquímico.
Na minha experiência me servi bem das estruturas propostas pelas ciências da magia. E aprecio bastante da linguagem cifrada, porque ela ativa meu entendimento e a minha imaginação.
No Tarot de autoconhecimento são diversos os autores e comentadores que se apóiam nas contribuições da psicologia em geral, como a de viés analítico, a de Carl Gustave Jung. Procedimentos da PNL, Programação Neurolingüística, e técnicas de escuta ativa são algumas dentre inúmeras outras possibilidades de cruzamento.
Normalmente, quem gosta de Tarot também lê sobre Psicologia, e comigo não foi diferente. Alternava a leitura de tudo que me caia às mãos com os livros sobre Contos de Fadas e Mitologia, de autores como Marie-Louise von Franz, James Hillmann, Esther Harding.
A prática divinatória é, ainda hoje, a que mais atrai consulentes desejosos em especular seu futuro. Há muito charlatanismo nessa facção – “trazemos seu amor de volta em um dia”, “com 3 mil reais à vista vamos resolver seu problema de impotência através das cartas”, entre outras coisas engraçadas – mas se mantivermos os olhos abertos é possível perceber que a prática irresponsável e o abuso de poder também cercam o mundo “ocultista”, onde talvez, o perigo ainda seja maior.
Outros aderem a uma espécie de pseudo prática de autoconhecimento e aconselhamento, nem sempre levada a cabo de forma efetiva. As leituras de Tarot costumas ser sazonais e a prática da Psicologia requer acompanhamento e suporte ao paciente, coisa para qual o tarólogo, grande parte das vezes, não está habilitado.
Bem, o que nos confere algumas certezas? Praticamente, quase nada. A escolha de um bom tarólogo ainda funciona bem pelo método antigo – a recomendação. No entanto, o que é bom para um pode não ser bom para o outro, o que pode acontecer com o atendimento médico ou com o encanador que fez maravilhas na casa de sua amiga e acaba estourando toda sua cozinha. Conclusão que nos leva novamente ao ponto de partida.
Nas redes sociais é possível perceber, para um olhar mais atento, quem são os profissionais de leitura simbólica que levam sua profissão a sério. Observe se as postagens demonstram repertório em outras áreas de conhecimento e se existem registro de alguma leitura aberta ao público, onde você possa verificar se a forma dele/dela trabalhar faz sentido para você. O marketing selvagem, aquele que promete mundos e fundos, na minha forma de perceber, desmerece o profissional. Mas vai saber, né? Pode ser preconceito da minha parte.
O que nos confere algumas certezas num terreno tão subjetivo como a prática tarológica?
Aventam alguns, a institucionalização da profissão de tarólogo. Outro problema. O Tarot está intrinsecamente ligado ao pensamento mágico, à poesia, ao oráculo. Como institucionalizar o trabalho de um analista de símbolos? Não é possível estabelecer um código de ética com uma prática que lida com o sorteio. Teria uma ética, o “acaso”? E se existisse, seria uma ética humana ou sobre-humana?
O Tarot é uma arte da imaginação. E sem a carteirinha de tarólogo, homologada sabe-se lá por quem, seria caçada a cartomante que atende nos fundos de casa para completar a renda da família? Deixa a pessoa trabalhar em paz.
O que validaria alguém que trabalha com o Tarot? Como escolher um tarólogo com alguma margem de acerto? Então vamos lá:
Primeiro, que faça uso das cartas tradicionais, os 78 arcanos menores e maiores. Em segundo lugar, que conheça a iconografia pertinente e sua relação com outros sistemas de pensamento. Que seja uma pessoa culta, sim, já que a leitura do Tarot pressupõe algum trânsito pelo espírito do seu tempo. Que possua a prática necessária para poder cobrar pelo trabalho, assim como qualquer outro profissional.
Nós, os tarólogos, sabemos da importância crucial do poder imaginativo e da intuição. Que sem esse aparato do espírito, de nada adianta o conhecimento racional. E isso não pode ser medido – ainda não inventaram o intuitômetro. Olhar para as imagens com a perplexidade como que Arcano Zero olha para o mundo é fundamental para criar narrativas que contem, através de uma combinação inusitada, a história de alguém que você não conhece. E muitas vezes, uma senhora pertencente a uma família de baixa renda e por ventura mal alfabetizada, pode nos dar dez a zero, pelo menos nesse quesito.
Então, o vale mesmo, é o que você deseja. Quer uma leitura divinatória, que aponte sem maiores responsabilidades os caminhos futuros mesmo que isso corresponda a escutar coisas desagradáveis? Procure alguém com este perfil. É o Império do Destino.
Deseja descobrir a razão de pesadelos e possíveis ataques astrais? Procure um tarólogo ocultista. É o Império da Magia.
Quer um trabalho mais moderno, que fale do seu presente e lhe mostre as tendências futuras, sempre lembrando das escolhas que estão em suas mãos? Procure um tarólogo ligado às terapias holísticas. É o Império do livre-arbítrio.
Separei tudo em blocos para que o leitor possa ter uma breve idéia das linhas adotadas pelos tarólogos. Mas volto a afirmar: um bom tarólogo transita nas três, sem que você perceba.
Boa sorte nas suas escolhas!
Zoe de Camaris
p.s.: Estou na plataforma de consultas do Personare. Se quiser consultar comigo, é só clicar aqui.