28 de abril de 2009

PROTEJA SUA ESCOLHA







Outro dia, uma consulente que refletia sobre um relacionamento que tinha ido por água a baixo me disse de forma enfática: “Eu protejo as minhas escolhas”. A frase me pegou. Já tinha pensado sobre a questão, mas nunca tinha escutado a idéia expressa assim, de forma tão pontual.

Sim, proteger as nossas escolhas. A gente demora tanto tempo para decidir entre uma coisa e outra, pesar prós e contras, encarar as oscilações da balança... Deixar de lado o caminho conhecido, confortável. Noutras vezes, a opção é mais radical: ou muda-se de vida ou muda-se de vida. Sem saída: aquilo que nos dá absoluta segurança vai dançar. Não há garantias. Respira-se fundo, levanta-se a cabeça e diz-se: “Eu vou”. Mas vai pra onde?

E aí começa o processo de pesagem. Não raro, alguém sai magoado. Os mortos e os feridos. Sem esforço não há crescimento. E existem os sacrifícios. Desapegos. Coisas que a gente não quer largar. Como ir pra frente sem olhar pra trás? Pois é. Mas não tem jeito. A decisão precisa ser tomada. E depois disso, só há o futuro. Não dá pra voltar.

Proteger as nossas escolhas. É o justo, depois da coragem de colocar todas as fichas na mesa.Tanto trabalho não pode ser jogado fora assim, com uma marcha-ré na primeira dificuldade.Há que se proteger a opção calculada, refletida, pesada na balança nem sempre equilibrada da vida. A escolha é livre! E sempre nossa. Sempre. Quem diz que não teve escolha, escolheu não escolher. Mas escolheu.

Proteger nossa opção é um ato de amor. Uma questão de respeito para consigo mesmo. É ruim olhar-se no espelho pela manhã e dar de cara com alguém que não mantém sua palavra. E saber que essa pessoa é você. É, ainda, um ato de amor para com os outros – aqueles que ficaram no passado e aqueles que fazem parte agora, do nosso presente. Por isso a importância de deter-se com atenção frente à encruzilhada e discernir com tempo e critério o novo rumo.

É claro que, vez ou outra, nos arrependemos. Normalmente isso acontece quando nos deixamos pressionar e decidimos sem tempo suficiente para um veredicto profundo. Ou quando a nossa escolha destina-se a agradar a alguém que não a nós mesmos. É difícil agradar gregos e troianos.

Toda escolha acertada exige centramento. Às vezes a gente errou mesmo. Aí então é melhor colocar o rabo entre as pernas e voltar sem muitos dramas. Opção equivocada. Essa conversa de “não me arrependo de nada que fiz na vida” é uma balela. É só uma frase repetida sem reflexão.

Na história da humanidade, sabemos, o erro pode levar a um grande achado. A penicilina, por exemplo, foi descoberta por causa de um vacilo de Fleming, uma situação imprevista. Ou seja, podemos aprender, e muito, com o erro. Basta que tenhamos abertura para mudar o ponto de vista. O lugar de onde olhamos um evento nas nossas vidas faz toda a diferença.

Nesse momento também é bom levar em conta que o conceito de certo e errado está atrelado a nossa forma de pensar, algo construído durante anos e com o respaldo da sociedade em que vivemos. Mas será que o “erro” é realmente um erro? Será que o “certo” é mesmo uma certeza?

O ideal é que possamos escolher sem pressões, calmamente, podendo dar uma “visada” no futuro e vislumbrando como ficaria nossa vida indo pelo caminho A, pelo caminho B, ou permanecendo. Pois permanecer, insisto, também é uma escolha.

Veja lá o que vai fazer na próxima bifurcação. Disso depende o seu bem-estar, a sua tranqüilidade mental no futuro.

E depois de feita a opção, proteja seu caminho, seja de flores ou de pedras. Proteja as margens. Encerre os tijolos. Regue as rosas. E segure firme nas mãos que quem vai junto.




Zoe de Camaris


artigo originamente publicado na Revista Personare

17 de abril de 2009

NANAINA!


3 de copas/Housewives Tarot

Ela disse "Nanaina". Minha filha de 6 meses falou. Certo, é o tatibitati, o gugu-dadá. Mas convenhamos, é uma palavra de três sílabas! Fiquei o dia inteiro com a palavra ressoando na cabeça: Nanaina. O que será isso? Foi na sua segunda refeição, a sopinha de legumes. Nanaina será "não"?

Em Minas Gerais, mais especificamente em Ouro Preto, os nativos dizem: "Nénãonénadanénão", bem rapidinho. Três negativas substituindo uma palavra de uma só silaba, a mais contundente da nossa língua portuguesa: "NÃO" O glifo "n" supõe a idéia de negativa, assim como no glifo "m" percebe-se a presença da mãe. Isso parece ser universal.

Mas o que será Nanaina? Lembro então de Alice (Através do espelho) e o famoso diálogo da protagonista com Humpty Dumpty:

— Não sei o que você quer dizer com essa palavra — disse Alice. Humpty Dumpty sorriu com ar de desprezo.
— Claro que não sabe, até eu lhe explicar... Quando uso uma palavra — disse Humpty Dumpty, num tom desdenhoso — ela significa exatamente o que eu quero que ela signifique, nem mais, nem menos.
— A questão está em saber — disse Alice — se você pode fazer com que as palavras tenham significados diferentes.
— A questão está em saber — disse Humpty Dumpty — quem é que manda.



E quem manda? A bebê, a inventora da palavra, detendora do seu significado? Mas ela não pode (ainda) me dizer o que significa. Eu, no papel de toda poderosa, que posso tentar traduzir a palavra ou encaixá-la nisso ou aquilo? Ou o contexto em que a palavra apareceu? Quem manda?

Nanaina pode ter a ver com "nenê". Ou com "ninar". Mas ela estava em pleno processo de iniciação do seu paladar, eis o contexto. Nanaina deve ser algo como "puxa que gosto estranho tem isso, não quero não".

Por via das dúvidas, Nanaina não quer dizer nada. Ou quer dizer tudo. Hoje, pra mim, tudo é Nanaina. A palavra não pára de martelar.

Com crianças, a aprendizagem acontece em duas vias. Elas aprendem, mas nós aprendemos mais ainda. E pelo jeito, ó jardim das delícias, a viagem começou! Primeira aula de Semântica. Ainda vamos ler muito juntas, menininha!


Nanaina pra todos vocês, seja lá o que isso signifique,

Zoe

p.s. : o 3 de copas, já ia me esquecendo, pode significar um nascimento. Para Crowley, o planeta Mercúrio, nesta lâmina, encontra-se em Câncer. O que pode presidir o nascimento das palavras.

6 de abril de 2009

Os 7 Pecados no Tarot



Uma taça com água pela metade pode estar meio cheia ou meio vazia. Se considerarmos que ela está meio cheia (ou nem uma coisa, nem outra, apenas equilibrada) podemos pensar os pecados capitais como o filósofo Vilém Flusser, em A História do Diabo. Flusser considera que os 7 pecados são signatários de uma visão comprometida, traduzidos através do uso de termos arcaicos e tendenciosos pela Igreja em sua propaganda antidiabólica. E substitui a visão corrente por termos neutros e modernos. Funciona bem para repensarmos a velha lista. Vamos lá?


SOBERBA é a consciência de si mesmo;
AVAREZA é economia;
LUXÚRIA é o instinto de preservação da vida;
GULA é a melhoria do standart de vida;
INVEJA é a luta pela justiça social e liberdade política;
IRA é a recusa em aceitar as limitações impostas à vontade humana, portanto é dignidade;
PREGUIÇA (ou tristeza) é o estágio alcançado pela meditação calma da filosofia.

Interessante, não? Eu gosto de colocações que deasafiam o ponto de vista comum.
A taróloga Mary Greer vê os 7 pecados capitais no 7 de copas. Sim, dá pra pensar. Mas seria possível encontrar nos arcanos menores do Tarot Waite/Smith a representação dos 7 pecados? Hum... Medo de forçar a barra. Mas pode funcionar como um exercício, desde que não signifique prender as borboletas em alfinetes. Olho nas imagens querendo casar-se com alguns conceitos por aproximação:


ORGULHO - O herói ostenta os louros da vitória e retorna triunfante, rodeado por seus seguidores. Aproveitando a pegada flusseriana, ei-lo consciente de seu valor, empertigado e vaidoso no seu cavalo. Na visão tradicional, a arrogância seria a fonte de todos os outros pecados e o mais grave dentre os 7, já que Lúcifer "criou"o inferno a partir de sua infinita Soberba ao querer igualar-se a Deus. A virtude que se opõe ao Orgulho seria a Humildade, a Modéstia.


AVAREZA - Economia, sim. E proteção, são dois dos significados do 4 de Ouros. É a carta do avarento - aquele que fecha não só a sua mão, mas também os seus chacras. Em uma leitura pode significar que o consulente precisa ter cuidado com suas posses ou que está se agarrando demais aos bens materiais. Como no pecado/arcano anterior, a imagem é bastante explícita favorecendo a correlação. Para combater a Avareza, temos a Virtude da Generosidade.


GULA - Bem, podemos dizer que este senhor com seu camisolão listrado e seu chapéu vermelho com penacho está um tiquinho acima do peso. Uma estranha mesa alta o rodeia, onde se observam nove taças. Ele traz os braços cruzados, mostrando que está centrado e nos sorri com uma impressão satisfeita. Estariam os cálices vazios pela glutonaria do nosso personagem? Seria apenas a vista parcial de uma mesa de banquete que esconde os ossos do pernil e uma fartura de doces? O Nove de Copas nos fala dos prazeres triviais e festas com satisfação física, segundo Rachel Pollack. Para combater a Gula, temos a virtude da Temperança. Para Flusser, nosso amigo melhorou seu status.


LUXÚRIA - Mais um pecado do excesso. O apego à extravagância e aos prazeres carnais. A imagem não é explícita, mas sabemos que a carta nos aponta para uma enchente de sentimentos. O rapaz parece mais do que satisfeito, enfastiado até. Sua apatia nos lembra mais a Preguiça do que a avidez sexual. No Thot Tarot o título do Arcano é Luxúria, o abandono aos desejos. Para combater o pecado capital, temos a Virtude da Castidade. Para Flusser, temos na Luxúria o instinto de preservação da vida.

INVEJA - A Inveja age dissimuladamente. Seu poder mina lentamente e na escuridão, longe de nossos olhos. Aqui temos uma personagem sorrateira que pé ante pé parece levar espadas tomadas das tendas que aparecem no fundo da carta. Um ladrão zombeteiro, amigo do alheio, que parece comprometido com a leveza. É a carta da superficialidade mas que dentre os arcanos menores do Tarot Waite mais parece se aproximar à idéia de Inveja, tomar o que é do outro. Ou pior ainda, apenas fazer com que o outro perca sem necessariamente desejar o objeto que causaria o pecado capital. Para combatê-la, teríamos a virtude da Caridade. Para Flusser, seria tomar daqueles que já têm demais, uma busca do equilíbrio.


IRA - Cinco rapazes lutam com seu bastões. A imagem nos sugere a idéia de rivalidade mais do que à Ira, propriamente dita. Esse embate juvenil parece ser inócuo enquanto a Ira sempre causa muitos estragos. É o pecado da violência e do descontrole. Para combatê-lo temos a Paciência, a mais nobre e gentil das Virtudes. Para Flusser é o exercício da dignidade que encara o rompimento dos limites.


PREGUIÇA - A preguiça me traz uma impressão de "moleza", bem ao contrário da imagem do 4 de espadas onde observamos um homem ou a estátua mortuária de um homem repousando sobre a lage fria. O 4 de espadas me transmite mais a idéia de recolhimento e imobilidade voluntária do que a indolência inata. Mas sem dúvida, seria o arcano mais adequado para caracterizar a "não-ação", a negligência, a apatia, a ausência de amor e também a tristeza que assinala a acedia. A preguiça pode ser combatida pela virtude da Diligência, zelo e presteza. Para Flusser, a meu ver quase num rasgo de bom humor, temos o "pecado" da Filosofia, estágio avançado causado pela meditação.

E você? Qual é seu pecado favorito?


Zoe

1 de abril de 2009

Novos Cursos em Curitiba/2009



Vamos estudar? A grade dos cursos de 2009 já está disponível no ZOE MÍDIA. Entrem em contato pelo endereço zoedecamaris@gmail.com. Logo divulgarei como ficam as aulas on-line particulares e em grupo, aguardem.

Abraços,
Zoe