17 de setembro de 2010

Rainha do Lar? Só sendo Rainha de Ouros.

Para ser Rainha do Lar, só sendo Rainha de Ouros - o arcano da corte mais próximo da Imperatriz. Partimos do princípio que o naipe de Ouros congrega todos os outros naipes, ou seja, a manifestação do Ar da Água  e do Fogo, materializam-se na Terra de Ouros (ou na Terra de Marlboro), mas como isso é um depoimento e não um estudo, prometo me esforçar e manter o foco no que acontece comigo e aqui em casa.

Observem  pelo caledoscópio. Lucy in the sky with diamonds. Ou Poikilóthron. Afrodite sentada no trono dourado lançando raios irisados para todos os lados. Porque é isso a mulher. Toda a diversidade.

Eu demorei muito para conseguir somar minhas Rainhas. Sou essencialmente Copas e finjo (bem)  que sou Espadas (a Persona acaba grudando como sói acontecer com máscaras usadas repetidamente). E isso, obviamente, se reflete na minha forma de cuidar da casa e da  família.

Minha Rainha de Paus é flutuante. Em períodos de energia equilibrada, o emocional também se estabiliza. Quando a força é excessiva posso usá-la a meu favor ou contra mim, na maior parte das vezes por processos inconscientes. Quando a uso a meu favor, meu coração se acalma e posso pensar em deixar minha casa bonita, em criar uma organização aprazível, em comer bem, em sorrir, em amar incondicionalmente. Relaxo em Copas quando a Rainha de Paus me favorece.

Se usar contra mim a força da Rainha de Paus, meus sentimentos entram em pane - o que só dá vazão a uma Rainha de Espadas mal-humorada. Uma chata. Rápida com as palavras e argumentos, pole position ou nada. Posso esquentar e fazer gritaria. Ou gelar tudo e virar a malvada Rainha das Neves. Melhor nem comentar...  E nessa hora é recomendável que ninguém deixe nada fora do lugar. E eu repenso se devo ou não voltar para a Análise.

Agora, se a Rainha de Paus me falta, se a sua alegria se esvai, caio em tristeza e páro de comer. Fico meio sem graça. Isso se a Rainha de Copas, a menina sensível e sentimental e aquática for magoada. Disfarço ativando a máscara de Espadas (lembrem-se, ela é a Agua do Ar). Aí posso fingir que estou bem, coisa que não faço quando o pique é alto. Confesso que em certos momentos até gosto disso, gosto muito disso, a poesia conversa com a melancolia e ganho em transparência conversando com meus botões. A melancolia me apraz, não a dor. Nem a raiva. A intensidade logo me cansa. Copas, minha Água, se dá bem quando estou triste. E aí, fico suave. Nessas horas, a casa, materialmente falando, desaparece. É como se eu estivesse em outro mundo.

A verdade é que ando tão dona de casa, tão Housewives Tarot,  tão brazilian way of life que tenho saudades de mim. Os poucos momentos de epifania são lavando a louça quando a bebê está dormindo ou passando o último produto anunciado pelos comerciais para deixar o chão branco da minha sala brilhando (a minha Rainha de Espadas é TOC total, seja na organização da casa, seja escrevendo). Fora isso, sempre são os Outros. E quando me dou conta já me esqueci entre as falas e os panos de prato.

Idealmente, poderia pagar para alguém para fazer o serviço doméstico que é repetitivo e invisível (para os outros). Você só fica realizada no momento em que a faxineira vai embora. Nos cinco minutos seguintes começa a repetir tudo, e assim vai, indefinidamente, queira ou não. Ninguém me ajuda na organização doméstica. Todos são bagunceiros. Minha Água entra pelo cano. Minhas Espadas são depostas. Sou melhor aqui, escrevendo. Fazendo o que faço agora.

Mas meninas, ao mesmo tempo... Estender roupas no varal pode ser uma atividade criativa (ironias a parte). O prazer em coar o café pela manhã é impagável. O panorama que avisto da minha casa, a enormidade de árvores, os pássaros (neste fim de semana, uma gralha-azul. Dias atrás, um tucano de bico verde)... Sim, há estética. Há beleza. E a beleza, sendo Copas, convulsiva ou relativamente ordenada pelas Espadas, é essencial. Luz. Não quero morar num apa(e)rtamento, que tantos falam ser mais simples.  Por isso, esfrego a calçada se imprescindível. Mas não hesito em deixar que o jardim seja tomado por dentes-de-leão. Assopro a florzinha de vento e chamo por soluções. A Imperatriz é Mãe e A Sacerdotisa, bruxa.

Por falar em bruxas, alquimias só em momentos especiais e para minha bebê. Consigo escapar da ditadura alimentar. Me viro com nozes, saladas, azeites, grãos. Quem encosta o tanquinho no fogão é meu marido. Mas aí ninguém escapa das frituras, da maionese, de misturas incompreensíveis. Minha frugalidade não compreende o excesso. Claro que me preocupo com a manutenção do(s) tanquinho(s), mas não há outra saída. Se eu resolver cozinhar, não faço mais nada da vida.

A casa é uma empresa. E quem mantém essa empresa funcionando sou eu, a administradora de Ouros. Trabalhar em casa, trabalhar fora de casa, pagar as contas, dividir quando dá, marcar horas no médico, correr pra lá e pra cá, receber os amigos, fazer visitas, cuidar de três filhas, cada uma com suas particularidades e idades diferentes, dar comida para o cachorro, lembrar dos dias do lixo reciclável e do não-reciclável, escutar as mazelas do jardineiro, levar criança ara escola, pegar na escola, sacudir a mamadeira, apagar as luzes, conferir as portas, namorar e enfim dormir depois que todo mundo já está acomodado, não necessariamente nessa ordem mas quase isso. Socorro! Eu e outras mil donas-de-casa, míriades de mulheres espallhadas pelo mundo. Antigamente, nem tinhamos nossos nomes em lápides. Somos um arquétipo.

A verdade é que depois de bastante tempo consegui unir lá do meu jeito as Rainhas. Nunca estão bem equilibradas, é verdade, mas a variação faz a vida ficar colorida. Tons de vermelho vivo e verde-limão. Outra hora, cores delicadas. Ou o dia indo embora e tingindo de azul-incompreensível o céu.

Rainha de Ouros. Essa é a guria, essa é a dona da hora. Ela me cansa, não páro quieta. Ninguém mais me vê grudada no computador ou lendo deitada no sofá. Ou me arrumando para sair dançar. Em compensação tenho uma casa linda, três filhas lindas, um gato e um cachorro lindos. E o dia de hoje pra viver. Sem passado. Sem futuro. Só  o espaço, aqui e agora.

A Inevitável Rainha de Ouros me obriga a relativizar. Respirar fundo. Avançar e retroceder. Alternar os meus humores e procurar não bailar ao sabor deles. Entender minha menina e minha velha. Ser generosa comigo. Ser exigente também. Lembrar da fada, lembrar da bruxa. Atender minhas consulentes com suas Rainhas embaralhadas. Aprender com as amigas as nuances do caledoscópio feminino que nunca, enquanto o mundo for mundo, deixará de nos surpreender.

Rainhas. Amar e amar e amar.
E quando dou sorte, um pouco de Poesia.

Zoe de Camaris
p.s.: esse post faz parte de uma blogagem coletiva proposta por Luciana Onofre e Pietra de Chiaro Luna.


12 de agosto de 2010

BE-A-BÁemBABEL








Դուք չեն հասկանում,
Գրեթե ոչինչ, թե ինչ եմ ասում
Ես ուզում եմ հեռանալ
Ես պարզապես ուզում եմ դուրս գալ
Եվ ուզում եմ գալ ինձ հետ

- Não entendi.

Που δεν καταλαβαίνετε
Σχεδόν τίποτα από αυτά που λέω
Θέλω να πάω μακριά
Θέλω απλώς να βγούμε
Και θέλω να έρθεις μαζί μου

- Bem, o que posso dizer?

तुम समझते नहीं
मैं क्या कह के लगभग कुछ भी नहीं
मैं दूर जाना चाहता हूँ
मैं तो बस बाहर निकलना चाहता हूँ
और मैं तुम्हें मेरे साथ आना चाहते हैं


- Melhor ficar quieto.

Ви не розумієте,
Майже нічого, що я кажу
Я хочу піти
Я просто хочу вийти
І я хочу, щоб ти поїхала зі мною

- Eu preciso contar o que vi agora há pouco.

Ez duzu ulertzen
Ia zer esan ezer
urrun joan nahi dut
nahi dut atera
Eta nirekin etorri nahi duzu nahi dut

- Besteira, isso já passou.

You do not understand
Almost nothing of what I say
I want to go away
I just want to get out
And I want you to come with me

- Eu não entendi nada.

Vous ne comprenez pas
Presque rien de ce que je dis
Je veux m'en aller
Je veux juste sortir
Et je veux que tu viennes avec moi

- Nem eu.

Você não está entendendo
Quase nada do que eu digo
Eu quero ir-me embora
Eu quero é dar o fora

- Agora?


Zoe

3 de abril de 2010

Sábado de Aleluia


A malhação de Judas
Afinal, a vítima é o traidor ou o traído? – Uma questão de ponto de vista, diria o Homem Pendurado, acostumado com mudanças bruscas de perspectiva - acordei pensando neste sábado de Aleluia. Oportuno lembrar do tema "traição" enquanto se malha o Judas, aquele que entregou Jesus por 30 moedas de prata segundo a versão tradicional. Outros dizem que Judas era o melhor amigo de Jesus, seu guarda-costas. Nesse ângulo de visão teria ajudado o Filho do Homem a cumprir seu destino. 'Mui amigo', mas vá lá. A questão é paradoxal mesmo. Ainda mais para um arcano que está naturalmente de ponta-cabeça.


Wirth
Tem um lance no Direito que se chama "Vitimização". A pessoa provoca provoca e provoca alguém. Um dia o provocado fica bravo e castiga o provocador que, rapidamente, toma o lugar de vítima. Louco isso, a troca rápida de papéis entre o verdadeiro bode expiatório e seu algoz. Aí tem aquela fala: - Só se coloca no papel de vítima quem quer - no caso, o provocado. Haveria então um acordo praticamente tácito de alimentação entre o algoz e a vítima. Acontece entre os sado-masoquistas e também entre os que não acham que sejam sado-masoquistas. Mas nem assim encontramos uma regra.

Nem sempre a vítima é causadora da sua dor como rezam os aficcionados pela Tábua da Esmeralda e os adoradores de "O Segredo". Existem os inocentes, completamente inocentes e que entram pelo cano. Aqueles que acreditaram, que botaram fé, que deram de si o melhor. Que fizeram tudo que estava ao seu alcance. Que têm gestos positivos e de repente... Lá se foi o tapete.

Por mais que se rodeie o assunto parece que sempre voltamos ao ponto de partida, o eterno retorno. Como se O Pendurado no Tarot ficasse girando feito A Roda da Fortuna e nos colocasse tontos.

Tem também o traidor, o algoz, que é verdeiramente traidor. Mas ele costuma ter justificativas para o gesto que, provavelmente, não chama de traição. Razões pessoais para voltar atrás no que foi combinado "na ponta do bigode", no "acordo de cavalheiros". Rói a corda. A nossa corda. Porque a própria corda é dificil, a não ser que o traidor tenha feito muitas abdominais e tenha um belo tanquinho. Movimento de iogue. Confuso esse arcano XII.



O Pendurado é o traidor ou a vítima?

É uma sensação horrível a de ser traido. Ao susto (traição sempre tem a ver com o medo) segue-se a dor e a revolta. Só quando perdoamos, nos entregamos, desistimos, que a dor da traição passa. Até lá ficamos pendurados, presos na mágoa. Causamos pena e compaixão. Perdoar nos liberta.

Curiosamente, não existe o efeito retórico, só o prático. Se não há verdadeiro perdão, não acontece nada. A corda continua firme.

E se a idéia é se vingar do sacana, o ódio toma conta do coração. E o traidor está lá, passeando de barquinho enquanto você espuma de raiva. A vingança é um prato que se serve frio, dizemos mentalmente. E alguns acreditam mesmo em justiça divina.

Mas não será a verdadeira vítima o traidor, execrado em praça pública, apedrejado, exposto pela propria traição? Não sofrerá o traidor (ainda neste mundo) as penas decorrentes do seu gesto em foro íntimo? Uma questão de consciência:



Há os traidores arrependidos que podem inverter sua posição rapidamente. De traidores passam a heróis. A verdade sempre nos favorece, diz um amigo. A verdade funciona como um escudo, causando maravilhas, mesmo que venha atrasada. E há os que não se arrependem nunca e também se tornam heróis. E a mentira permanece. A traição é um conceito que mexe de frente com a questão da verdade e da mentira.

Não sei qual versão está certa, se Judas-Capitu traiu mesmo Bentinho. Sei que o gesto de malhar o Judas é catalisador. Melhor queimar o boneco como um rito de passagem. Marcar a testa do Espantalho com nossa fúria, aquele covarde: - Loser! gritamos em côro. Vale como gesto simbólico, esse costume popular tão antigo.


Minchiate

E reafirma que o arquétipo continua vivíssimo. Que medre então e de preferência, bem longe de nós, afinal só existe um Sábado de Aleluia ao ano. Mas se assim não for que a dor se revista do sacro-ofício, o sacrifício sagrado, naquele que encontra um sentido maior para o sofrimento.


Mas eu nunca gostei dessa história de crescer através da dor.


Zoe

12 de janeiro de 2010

TAROT LÍQUIDO




Bacana. Tarot também é perfume. Lembram da linha TAROT da Natura? Pois é, mas agora o must da estação fica por conta da Dolce&Gabbana, The D&G Fragrance Anthology, 5 perfumes inspirados nas cartas.

Os arcanos escolhidos são O Mago, A Imperatriz, Os Amantes, A Roda da Fortuna e A Lua, cada um protagonizado por um(a) top model, com exceção da Roda, que ganha um casal. Vale a pena dar uma olhada na página oficial da coleção, se sua conexão for rápida.


LE BATELEUR/TYSON BALLOU


Notas de saída: Cardamomo, grãos de junípero, folhas de bétula

Notas de coração: Acordes aquáticos, coentro

Notas de fundo: Vetiver, cedro branco, resina de olíbano

Aromático e amadeirado




L'IMPERÁTRICE/NAOMI CAMPBELL


Notas de saída: Ruibarbo, groselha, suco de kiwi

Notas de coração: Ciclâmen rosa, toques de melancia, pétalas de jasmim

Notas de fundo: Notas de almíscar, madeira de sândalo, madeira de pomelo

Frutal floral



LES AMOREAUX/NOAH MILLS


Notas de saída: Bergamota, grãos de junípero, pimenta rosa

Notas de coração: Cardamomo, folha de bétula, raiz de lírio

Notas de fundo: Notas de almíscar e acordes de lenha

Oriental amadeirado



LA ROUE DE LA FORTUNE
/FERNANDO
FERNANDES E EVA HERZIGOVA


Notas de saída: Pimenta rosa, acordes verdes, abacaxi

Notas de coração: Tuberosa, gardênia, jasmim

Notas de fundo: Baunilha, raiz de lírio, benjoim, patchouli

Oriental floral




LA LUNE/CLAUDIA SCHIFFER


Notas de saída: Maçã, bergamota, acordes verdes

Notas de coração: Lírio, rosa, tuberosa

Notas de fundo: Raiz de lírio, couro, sândalo, almíscar

Floral fresco


D&G Fragrance Anthology tem um design espartano na escolha dos frascos e embalagens, como convém a uma linha com pegada mais popular. Os perfumes, sem muita fixação, não são intensos como seria conveniente aos arcanos maiores. Cheiram à arcanos menores, na minha modesta opnião. Exceto o n° 3 e o n° 10, mais fortes, pelo que deu pra sacar. Mas não se comparam, nem de longe, à profundidade do By, meu preferido da D&G para algumas ocasiões especiais (gratíssima até hoje a minha amiga Luciana Macedo por tê-lo me apresentado), mesmo que continue fiel ao raríssimo Fracas, da Robert Piguet que, por sinal, ai meus deuses, está pela hora da morte.

De qualquer forma, vale pena dar uma sentida na coleção. E para quem quiser conhecer a campanha publicitária, aí vai o link do n°6, escolhido para figurar aqui por motivos óbvios.... A beleza perfeita de Noah Mills. Esse homem não precisa de perfume. Se cheirar estraga.

Zoe
post scriptum: Voltei à loja de perfumes. Fiquei de cara com o que a moça treinada na campanha me disse. Você é que faz a mistura. Alquimizar os arcanos, puxa vida. Imagienei a balbúrdia. La Lune (horrível, mas apostaria depois de 3 horas pra ver como fica) com La Roue (forte, aveludado e com fixação). Imaginaria um perfume mais volátil para a Roda mas se os os consultores de marketing resolveram apostar na roleta problema deles. E mistura complicada a do arcano 18 com o 10, convenhamos. Claro que irá dar errado. Le Bateleur com Les Amoreaux... Gosto do n°1, o perfume. E o n° 6 pode dar barato, sei lá. Outras combinações? Mas afinal, quem chegaria à essência dos arcanos? Quem poderia misturá-los? Claro que não seria a Procter $ Gamble. Tá pra nascer o perfumista.