O primeiro olhar trocado, o coração que dispara, a corrida ao espelho, a insegurança, a beleza dos gestos (naturais e estudados), o caminho trêmulo das mãos, a dança das línguas... Todos conhecemos a linguagem universal do Amor. Está no nosso DNA e é reafirmado pelas letras de música, pelo cinema, pela literatura. O tema é inesgotável embora conte sempre a mesma história. O encontro, o desencontro, o reencontro, com ou sem final feliz.
Mas o diálogo de que falo aqui é outro, aquele que vai além de uma conversa com o espelho, a fala da vaidade, a verborragia hemorrágica da exibição. Falo da abertura do coração e do verdadeiro interesse que nasce em relação ao outro. "O que você pensa, o que você vive, o que você sabe me interessa diretamente e é demonstrado". Da arte do diálogo no Amor, quando quase tudo que se vê é um monólogo incessante que vai num crescente chocar-se com os céus a espera do raio.
É possível que minha perspectiva deva-se ao meu mapa mercuriano. Não é possível sobreviver a uma história que não conversa, que não se diverte com as palavras, que não exprime ternura nas mais acirradas discussões. Não é possível um amor que não instigue, um amor que não leve à criação, um amor que não faça que o outro brilhe naturalmente.
Existem amores que continuam incitando, acordados na lembrança e no passado. E amores que provocam idéias de futuro. Minha saudade caminha em ambas direções.
Há uma armadilha, claro, no amor somos todos pequenos animais transitando na selva. Pois amar pressupõe a entrega, a confiança, o acreditar, o caminhar sem medo. A cilada é a competição. Transformar o outro em uma ameaça e reagir com estratagemas do intelecto. Provocar o nascimento do predador quando não é possivel livrar-se da vaidade. É um risco, mas um risco que para mim, com meu Mercúrio dominante, aceito tranquilamente correr. Arriscar-me na selva dos pensamentos é bem melhor do que passar a vida falando sobre tomates sem entender a língua do outro. Aceito os sapos e os diamantes, como no conto de fadas.
Não basta a beleza dos corpos, não basta o poder da atração, a química das diferenças. Quero primeiro a lingua e depois a lingua.
Ambas titilando no céu da boca.
Zoe de Camaris
* na imagem, Abelardo e Heloísa.
2 comentários:
Correr o risco é parte de sentir-se vivo, mais do que estar vivo. Belo texto, maduro e consciente como todas as suas leituras :)
Sempre linda, sempre ótima. Beijo, sereia.
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