O Triedro dos Relacionamentos
"... Aonde está você agora /
Além de aqui dentro de mim? "
Além de aqui dentro de mim? "
Renato Russo
O amor é um mistério. Não se sabe de onde vem, nem porque vem. Podemos senti-lo, quase tocá-lo, mas é abstrato. Não há dúvidas que é o motor do mundo, a força que ordena e organiza a vida na Terra. E contra ele não existe magia. Apenas o encantamento. O Amor é o que restabelece a perfeição do nosso estado natural. Une o que está separado. Permeia nossas vidas todos os dias, todas as noites. Não há ser humano que não o conheça - é o que vivifica a vida (com a licença de uma acertada redundância), o que lhe dá sentido. E qual o sentido? Ou melhor, quais os sentidos, quais os caminhos o Amor pode tomar? O Tarot nos dá algumas pistas, alguma orientação.
São três os arcanos: O Enamorado, A Temperança e O Sol, representando três faces ou possibilidades, uma trívia. E todas estas formas de amar se interconectam, são permeáveis a influência umas das outras, atuam em conjunto, por isso o triedro: nada, nesse terreno, pode ser dissecado com o bisturi da lógica. Seccionar só serve para que possamos compreender melhor. E depois de conhecido, é recomendável que tudo seja colocado novamente no caldeirão.
Bem, partimos do principio platônico do andrógino primordial. Como é do conhecimento de todos, no livro "O Banquete" é narrado um mito que conta sobre estranhos seres proto-humanos que possuíam uma forma redonda - quatro pernas, quatro braços e um só corpo. Faziam amor com a Terra e moviam-se em giros. Eram donos de uma tremenda força e resistência, além de uma enorme ambição. Tomados pela arrogância resolveram invadir os céus, despertando a ira de Zeus. O rei dos deuses tomou uma espada e os cortou pelo meio, transformando-os em "metade". Desesperados, sem encontrar paz, buscavam sua outra parte sem descanso e quando a encontravam, fechavam-se em um abraço mortal. Zeus sensibilizou-se com o estado das coisas e mandou passar para frente os órgãos sexuais que se localizavam atrás. Assim, ao menos por um curto momento, as metades poderiam saciar-se num instante de morte, um instante de prazer, a chamada "pequena morte": o orgasmo. Separavam-se novamente e continuavam suas vidas, mesmo que incompletas, até o próximo abraço. E o Amor seria este encontro, o encontro da metade perdida. É a saudade de um "antigo estado", um estado de perfeição que todos nós, de uma maneira ou outra, tentamos recuperar.
E nesse momento, e nessa busca, não é a Eros, fugidio deus do amor, a quem devemos implorar, mas sim ao deformado Hefesto, companheiro de Afrodite e forjador das armas dos deuses que, ao ver-nos unidos no abraço, pode tornar-nos de novo um só:
«Aquilo que ansiais não é uma fusão perfeita de um com o outro, para nunca vos separardes, nem de dia nem de noite? Se for esse o vosso desejo, eu posso fundir-vos e soldar-vos, com o poder do fogo, num mesmo indivíduo, de tal forma que de dois vos transformo num só, de forma a que vivais um para o outro enquanto durar a vossa vida, e que, uma vez mortos, no Hades fiqueis um, ligados os dois numa espécie comum.»
Então peçamos ao ferreiro divino que nos faça de novo um só. Pois todos sabemos que quando o Amor une duas pessoas, a completude original é recuperada. E aí fica bem mais fácil cada um cuidar de si.
O amor é um mistério. Não se sabe de onde vem, nem porque vem. Podemos senti-lo, quase tocá-lo, mas é abstrato. Não há dúvidas que é o motor do mundo, a força que ordena e organiza a vida na Terra. E contra ele não existe magia. Apenas o encantamento. O Amor é o que restabelece a perfeição do nosso estado natural. Une o que está separado. Permeia nossas vidas todos os dias, todas as noites. Não há ser humano que não o conheça - é o que vivifica a vida (com a licença de uma acertada redundância), o que lhe dá sentido. E qual o sentido? Ou melhor, quais os sentidos, quais os caminhos o Amor pode tomar? O Tarot nos dá algumas pistas, alguma orientação.
São três os arcanos: O Enamorado, A Temperança e O Sol, representando três faces ou possibilidades, uma trívia. E todas estas formas de amar se interconectam, são permeáveis a influência umas das outras, atuam em conjunto, por isso o triedro: nada, nesse terreno, pode ser dissecado com o bisturi da lógica. Seccionar só serve para que possamos compreender melhor. E depois de conhecido, é recomendável que tudo seja colocado novamente no caldeirão.
Bem, partimos do principio platônico do andrógino primordial. Como é do conhecimento de todos, no livro "O Banquete" é narrado um mito que conta sobre estranhos seres proto-humanos que possuíam uma forma redonda - quatro pernas, quatro braços e um só corpo. Faziam amor com a Terra e moviam-se em giros. Eram donos de uma tremenda força e resistência, além de uma enorme ambição. Tomados pela arrogância resolveram invadir os céus, despertando a ira de Zeus. O rei dos deuses tomou uma espada e os cortou pelo meio, transformando-os em "metade". Desesperados, sem encontrar paz, buscavam sua outra parte sem descanso e quando a encontravam, fechavam-se em um abraço mortal. Zeus sensibilizou-se com o estado das coisas e mandou passar para frente os órgãos sexuais que se localizavam atrás. Assim, ao menos por um curto momento, as metades poderiam saciar-se num instante de morte, um instante de prazer, a chamada "pequena morte": o orgasmo. Separavam-se novamente e continuavam suas vidas, mesmo que incompletas, até o próximo abraço. E o Amor seria este encontro, o encontro da metade perdida. É a saudade de um "antigo estado", um estado de perfeição que todos nós, de uma maneira ou outra, tentamos recuperar.
E nesse momento, e nessa busca, não é a Eros, fugidio deus do amor, a quem devemos implorar, mas sim ao deformado Hefesto, companheiro de Afrodite e forjador das armas dos deuses que, ao ver-nos unidos no abraço, pode tornar-nos de novo um só:
«Aquilo que ansiais não é uma fusão perfeita de um com o outro, para nunca vos separardes, nem de dia nem de noite? Se for esse o vosso desejo, eu posso fundir-vos e soldar-vos, com o poder do fogo, num mesmo indivíduo, de tal forma que de dois vos transformo num só, de forma a que vivais um para o outro enquanto durar a vossa vida, e que, uma vez mortos, no Hades fiqueis um, ligados os dois numa espécie comum.»
Então peçamos ao ferreiro divino que nos faça de novo um só. Pois todos sabemos que quando o Amor une duas pessoas, a completude original é recuperada. E aí fica bem mais fácil cada um cuidar de si.
Ok, podemos dizer que estes dois pólos convivem dentro da gente. Yin e Yang, Anima e Animus. E assim é, senão creio que enlouqueceríamos. Algo dentro de nós subsiste gerando maior ou menor conforto, dependendo dos esforços de cada um na busca de Si Mesmo. Mas nada anula a busca do Si Mesmo no Outro.
No Tarot, o primeiro encontro dos amantes está representado no sexto arcano, O Enamorado. É a atração, a sintonia pressentida, o amor "à primeira vista", coup de foundre. O momento da dúvida, de conflitos, e também da eleição. O arrebatamento, a paixão, o desejo que inflama e toma o corpo e os pensamentos. O reconhecimento inicial, a "pesagem" das qualidades e defeitos, as primeiras recusas e aceitações. Os jogos de sedução, a dança do acasalamento. O namoro que pode ou não resultar em um casamento. Aqui se esgota a influência deste arcano, ao menos nos objetivos deste pequeno estudo. É o amor EROS.
A Temperança representa um segundo movimento e é aqui que as uniões se consolidam ou se desmancham. Passada a fase de novidades, representada pelos Enamorados, a Temperança promove os processos de intimidade o distanciamento, os acertos, a "equalização" do relacionamento. É a fusão e amálgama dos líquidos, dos humores. As famosas "concessões", sem as quais nem um relacionamento caminha. É fase em que se ganha confiança no parceiro. A justa medida. É a "realidade" do amor. A relação é "temperada" e caminha para o amor maduro, já não sobre a égide do anjo brincalhão. Manter a chama acesa é o desafio dos parceiros até porque na mistura de elementos díspares, os monstros costumam aparecer na superfície. É a hora dos vínculos acertados, da colaboração, da harmonia. Um processo demorado, uma sutil alquimia que pode ou não chegar ao próximo estágio, O Sol. É o amor PHILOS.
O Sol aparece para os amantes quando a confiança total é estabelecida. É o desfrute, a benção, o mel. Traz em si a Temperança introjetada e o brilho da paixão enamorada do arcano seis. Não há vergonha, mas sim um jardim paradisíaco. É o amor ideal, a idéia de alma gêmea que dispensa os outros estágios. É a certeza do Amor. Poucos relacionamentos chegam até O Sol, superadas as agruras da Temperança. A sorte grande é quando o encontramos num primeiro momento, quando olhamos nos olhos de alguém e o reconhecemos como o parceiro que vínhamos esperando desde sempre. Talvez seja uma idéia extremamente romântica do amor, parece quase impossível. É O Enamorado numa oitava maior, sem as dúvidas paralisantes. A inocência é recuperada, todo o corpo se abraça, envolvendo a alma. Não há medo da repulsa, os gestos são espontâneos. Não há jogos nem armações, não há nada para esconder. Os gêmeos estão nus sob O Sol e também protegidos pelo muro sagrado. É o amor ÁGAPE.
Nestes tempos de "Amor Líquido", como nos diz Zigmunt Bauman, já é raro passar do primeiro para o segundo estágio. As relações estão frouxas, sem consistência. Todos desejam um verdadeiro amor e, nessa busca, desejam estar sempre disponíveis para um próximo amor, que poderia ser o ideal. Projeta-se a felicidade no futuro e se foge das experiências do passado, ou se tenta revivê-las, como se fosse possível. Raramente se chega ao momento da Temperança. E quando acontece, os amantes se separam, entediados, buscando as novidades do arcano seis, ou ainda sonhando com alma gêmea, representada pelo Sol.
Bem, independente da face Eros que estivermos vivendo há algo de atemporal e eterno, uma origem divina no Amor. E uma atração irresistível, um sentido quase inumano no mais humano de todos os sentimentos. Ou será que sou só eu que penso assim?
Zoe de Camaris
p.s.1: agradeço ao querido amigo Mauro Lima por ter escaneado pra mim as cartas do seu belo Tarot Art Nouveau. Caíram como uma luva para este artigo.
p.s.2.: vale a pena dar uma olhada, para complementar o assunto, nos meus artigos aqui neste mesmo blog, neste mesmo cat-canal, sobre O Sol e A Temperança. Comentários, críticas e contribuições serão muitíssimos bem vindos.
4 comentários:
Excelente texto. Tomara que todos nós uma hora cheguemos - ou encontremos - o Ágape. Até lá a gente fica com um pezinho n'O Carro, n'O Diabo, n'A Estrela... rs
Beijo, coração. Vc é a melhor.
Zoe, adorei o artigo sobre os 3 Arcanos do Amor.É a primeira vez que vejo a temperança como um estágio do Amor, achei muito interessante.
Abraço, Jucene
acho que entrei no lugar que não devia, me desculpe. eu apenas digitei jucene no google, e procurei por jucene, pois jucene foi minha mulher por 5 anos e não estamos juntos hoje, porém ainda a amo muito.
me desculpe pelo engano, e nem ao menos li o que estava escrito acima.
se tiver algo a me dizer me envie um email. ricardostoliveir1@yahoo.com.br
RICARDO
Querida Zoe,
Gostei muito do texto e de me aprofundar um pouco mais... Amei o encontro que tivemos no evento da La Flor, quando fui agraciada com a Temperança por duas vezes! rsrs
Logo pretende encontrá-la novamente para uma longa e produtiva consulta. Obrigada. Lena
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