Outro dia, uma consulente que refletia sobre um relacionamento que tinha ido por água a baixo me disse de forma enfática: “Eu protejo as minhas escolhas”. A frase me pegou. Já tinha pensado sobre a questão, mas nunca tinha escutado a idéia expressa assim, de forma tão pontual.
Sim, proteger as nossas escolhas. A gente demora tanto tempo para decidir entre uma coisa e outra, pesar prós e contras, encarar as oscilações da balança... Deixar de lado o caminho conhecido, confortável. Noutras vezes, a opção é mais radical: ou muda-se de vida ou muda-se de vida. Sem saída: aquilo que nos dá absoluta segurança vai dançar. Não há garantias. Respira-se fundo, levanta-se a cabeça e diz-se: “Eu vou”. Mas vai pra onde?
E aí começa o processo de pesagem. Não raro, alguém sai magoado. Os mortos e os feridos. Sem esforço não há crescimento. E existem os sacrifícios. Desapegos. Coisas que a gente não quer largar. Como ir pra frente sem olhar pra trás? Pois é. Mas não tem jeito. A decisão precisa ser tomada. E depois disso, só há o futuro. Não dá pra voltar.
Proteger as nossas escolhas. É o justo, depois da coragem de colocar todas as fichas na mesa.Tanto trabalho não pode ser jogado fora assim, com uma marcha-ré na primeira dificuldade.Há que se proteger a opção calculada, refletida, pesada na balança nem sempre equilibrada da vida. A escolha é livre! E sempre nossa. Sempre. Quem diz que não teve escolha, escolheu não escolher. Mas escolheu.
Proteger nossa opção é um ato de amor. Uma questão de respeito para consigo mesmo. É ruim olhar-se no espelho pela manhã e dar de cara com alguém que não mantém sua palavra. E saber que essa pessoa é você. É, ainda, um ato de amor para com os outros – aqueles que ficaram no passado e aqueles que fazem parte agora, do nosso presente. Por isso a importância de deter-se com atenção frente à encruzilhada e discernir com tempo e critério o novo rumo.
É claro que, vez ou outra, nos arrependemos. Normalmente isso acontece quando nos deixamos pressionar e decidimos sem tempo suficiente para um veredicto profundo. Ou quando a nossa escolha destina-se a agradar a alguém que não a nós mesmos. É difícil agradar gregos e troianos.
Toda escolha acertada exige centramento. Às vezes a gente errou mesmo. Aí então é melhor colocar o rabo entre as pernas e voltar sem muitos dramas. Opção equivocada. Essa conversa de “não me arrependo de nada que fiz na vida” é uma balela. É só uma frase repetida sem reflexão.
Na história da humanidade, sabemos, o erro pode levar a um grande achado. A penicilina, por exemplo, foi descoberta por causa de um vacilo de Fleming, uma situação imprevista. Ou seja, podemos aprender, e muito, com o erro. Basta que tenhamos abertura para mudar o ponto de vista. O lugar de onde olhamos um evento nas nossas vidas faz toda a diferença.
Nesse momento também é bom levar em conta que o conceito de certo e errado está atrelado a nossa forma de pensar, algo construído durante anos e com o respaldo da sociedade em que vivemos. Mas será que o “erro” é realmente um erro? Será que o “certo” é mesmo uma certeza?
O ideal é que possamos escolher sem pressões, calmamente, podendo dar uma “visada” no futuro e vislumbrando como ficaria nossa vida indo pelo caminho A, pelo caminho B, ou permanecendo. Pois permanecer, insisto, também é uma escolha.
Veja lá o que vai fazer na próxima bifurcação. Disso depende o seu bem-estar, a sua tranqüilidade mental no futuro.
E depois de feita a opção, proteja seu caminho, seja de flores ou de pedras. Proteja as margens. Encerre os tijolos. Regue as rosas. E segure firme nas mãos que quem vai junto.
artigo originamente publicado na Revista Personare
8 comentários:
Não poderia estar mais e acordo Zoe :)
Acho que a grande questão também tem a ver com a responsabilidade, assumi que somos responsáveis por tudo o que acontece e que o acontece tem a ver com as nossas escolhas. Eu aceito as escolhas que fiz e fui só eu que as fiz, posso ter levado esta ou aquela pessoa em consideração, mas fui eu que escolhi fazer essa consideração. Não há nada de mais chato, para mim, do que ouvir "escolhi por causa dos filhos, do marido, do pai, da mãe, do namorado, da amiga." Escolheu porque quis, tinha sempre a escolha de não escolher :)
E quando escolhe é necessário cuidar das escolhas, ou então escolher mudar outra vez!
Esse assunto dá pano para mangas!
Um abraço
A galera, mtas vezes, esquece que escolheu e põe a culpa em Deus.
Mas, ae pergunto: como proteger as escolhas qdo essas começam a se mostrar danosas? É hora de largar e ... escolher de novo!!!
zô, demais! Adorei! bj enorme!!!
Concordo plenamente com seu texto, pois a vida é assi mesmo, como enamorados escolhemos, e a partir pegamos a escolha e seja o que Deus quiser, torcendo para que os resultados sejam positivos.
Que a Justiça possa nos beneficiar, mas proteger a nossa escolha é fundamental. Se escolhermos entao vamos até o fim com ela, dando certo ou não.
Que maravilha encontrar blogues como esse pelo caminho. Escolhi virar freguês!!!! abraço e luz!!!
vc nao sabe como esse texto veio no momento certo pra mim. rsrsrs
Protejo minhas escolhas sim.
Para mim a questão nem é fazer escolhas, a questão é manter essas escolhas, pelo menos o tempo suficiente para que elas cresçam, florescem, o tempo suficiente para colher os frutos de uma experiência vivida, não um desejo fugaz, uma pequena fantasia.
Protejo minhas escolhas ficando firme contra ventos e marés, marés de opções, de artigos de revistas, de propagandas, de conselhos e 'desconselhos' de amigas, contra os ventos das modas, dos rótulos sedutores, da grama sempre mais verde dos vizinhos.
Protejo minhas escolhas porque elas me definem. Nessa tempestade constante de tentações, convites e possibilidades, preciso me lembrar do que e de quem gosto, do que escolho para mim, do que escolho oferecer ao outro.
Protejo minhas escolhas com confiança e paciência. Elas são sementes, planto com fé cada uma delas, rego e alimento, cuido dos parasitas, das condições desfavoráveis e dos predadores.
Como uma jardineira serena, sei esperar elas crescerem. Numa suave e delicada expectativa, envolvida pela certeza e a curiosidade espero ver o que vai dar. Enquanto o tempo passa, escuto distraída os palpites alheios e continuo cuidando.
Elas desabrocham enfim, escolhas enormes, fortes e verticais como carvalhos, escolhas tímidas que abrem só de noite, aquelas outras, pequenas e frágeis como violetas.
Como uma jardineira curiosa sei admirar o trabalho da alquimia do universo: mutação imprevisível, genética incontrolável, forma e cor inexplicáveis. Os frutos mais lindos são sempre os inesperados.
Se o bom jardineiro sabe que não se controla o que é vivo; devemos lembrar que colhemos ou que plantamos.
Escolhe o que quer, escolhe o que ser e protege a escolha.
"...quanto custa uma certeza,
uma alegria, uma esperança,
uma ilusão, a minha dor, ah!
eu tô no meio do mundo..."
e já te escolhi tb.
abrç
Ribeva
Zoe,
tomei a liberdade de linkar seu belo artigo em meu blog - http://tarosfera.com e quero saber de você sua opinião. Caso não seja de seu agrado minha iniciativa, comunique-me por gentileza.
Obrigado
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